quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UTOPIA

UTOPIA, s.f. ...|| Por ext. Projecto imaginário. || Coisa irrealizável. || Quimera, fantasia.

Por vezes, ao procurar uma palavra no dicionário, deixo os meus dedos e olhos perderem-se noutras que não eram para ali chamadas. O pior é quando encontro algumas que me fazem seguir outros rumos e desviam da pesquisa inicial.
Utopia foi uma dessas palavras. Já não importa o que buscava, ao deparar com esta parei e perdi-me. É bonita, soa bem. É intrinsecamente humana. Assenta-me como uma luva.
Desde que eu me lembro de pensar que encontro todas as características que fazem de mim um utópico.
Queria ser vagabundo, obrigaram-me a ir estudar. Fugi de casa para ir à descoberta do mundo, deu-me a fome regressei a horas do jantar. Ninguém deu por nada. Nas brincadeiras queria ser bandido, obrigavam-me a fazer de polícia porque me apanhavam logo. Acreditei em todos os revolucionários da década de sessenta. Desapareceram. Excepto o Guevara que os USA aproveitaram para venderem a imagem em todas as inutilidades.
Fantasias e projectos irrealizáveis são uma constante na minha vida. Votei PS porque acreditei neles. O resultado está à vista! Tudo cada vez pior. Não há planos que resistam. Passam logo a utopias.
Mas uma utopia tornar-se realidade é uma impossibilidade, por definição. Imagina que eu considerava utópico um negro como presidente dos USA. Hoje tinha-se realizado essa fantasia; logo, não era uma utopia.
Portanto, perante a governação que temos, posso admitir que o meu sonho de ser vagabundo corre o risco de se tornar verdadeiro. Afinal não sou tão utópico como pensava.
Não posso é dispersar-me nas minhas consultas ao dicionário.

Bob, o construtor

O mundo de Bob, o incansável construtor, é a metáfora indelével da possibilidade, vagamente bíblica, da vivência harmoniosa homem/máquina obsoleta/natureza.
Um estágio de desenvolvimento civilizacional curioso, onde a simpática, prestável e ultrapassada retro escavadora comunga dos sofrimentos e alegrias do aprendiz de pedreiro, sorrisos e lágrimas estendidas a pele e chapa. Uma existência quimérica, ditada por um vazio crítico, embutido em valores de coerência (?) moral que sustentam o que, noutros tempos e quadrantes, se poderia etiquetar "paz pôdre". Épocas!!
O mundo de Bob é perfeito; a chuva é medida com o rigor que os rebentos demandam e o sol bronzeia Bob, mitigando os efeitos nocivos de uma excessiva radiação, e contribuindo para o crescimento sustentado da natureza.
Haverá, talvez, um titubeante paganismo de Bob. Deus, esse mesmo, não teria, em abono da verdade, patrocinado igual equilíbrio no jardim primeiro. O primeiro dos jardins, pois sim. Mas Bob nem fala em deus.
Bob é exacto, parcimonioso, prestável, elegante, sofista ao modo clássico. Bob sorri, acena e está certo; sejamos justos: Bob está sempre certo. Bob é impagável se retruca e sabe do que sabe e não.
E o assentimento das máquinas garridas enrobustece esse claro, tão claro, saber.
Bob vive num mundo fechado, pequenas miniaturas coloridas, onde as fronteiras não têm lugar - o preço do mundo do sonho que não tem limites e é tão pequeno ou tão grande...
Ainda bem. Bob não mereceria uma irritante crise externa nem orçamentos rectificativos.
Bob, é, afinal, um construtor.