terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bob, o construtor

O mundo de Bob, o incansável construtor, é a metáfora indelével da possibilidade, vagamente bíblica, da vivência harmoniosa homem/máquina obsoleta/natureza.
Um estágio de desenvolvimento civilizacional curioso, onde a simpática, prestável e ultrapassada retro escavadora comunga dos sofrimentos e alegrias do aprendiz de pedreiro, sorrisos e lágrimas estendidas a pele e chapa. Uma existência quimérica, ditada por um vazio crítico, embutido em valores de coerência (?) moral que sustentam o que, noutros tempos e quadrantes, se poderia etiquetar "paz pôdre". Épocas!!
O mundo de Bob é perfeito; a chuva é medida com o rigor que os rebentos demandam e o sol bronzeia Bob, mitigando os efeitos nocivos de uma excessiva radiação, e contribuindo para o crescimento sustentado da natureza.
Haverá, talvez, um titubeante paganismo de Bob. Deus, esse mesmo, não teria, em abono da verdade, patrocinado igual equilíbrio no jardim primeiro. O primeiro dos jardins, pois sim. Mas Bob nem fala em deus.
Bob é exacto, parcimonioso, prestável, elegante, sofista ao modo clássico. Bob sorri, acena e está certo; sejamos justos: Bob está sempre certo. Bob é impagável se retruca e sabe do que sabe e não.
E o assentimento das máquinas garridas enrobustece esse claro, tão claro, saber.
Bob vive num mundo fechado, pequenas miniaturas coloridas, onde as fronteiras não têm lugar - o preço do mundo do sonho que não tem limites e é tão pequeno ou tão grande...
Ainda bem. Bob não mereceria uma irritante crise externa nem orçamentos rectificativos.
Bob, é, afinal, um construtor.

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