domingo, 3 de maio de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

AMARELO COMO EU GOSTO




Para dar mais luz a este blog!!!

quinta-feira, 19 de março de 2009

A Ajuda

quarta-feira, 18 de março de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

PORMENOR DE UMA MORADIA

SERÁ POSSÍVEL OUVIR

Será possível ouvir como que vozes
não de anjos mas de humanos como um coro
louvando que vivemos, resistimos e sofremos
- naquele momento em coro todos, recusando

JORGE DE SENA

segunda-feira, 2 de março de 2009

O GATO

GATO

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O'Neill

domingo, 15 de fevereiro de 2009

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Poesia Matemática

Poesia Matemática


Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs -
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais
Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

*Millôr Fernandes

sábado, 7 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UTOPIA

UTOPIA, s.f. ...|| Por ext. Projecto imaginário. || Coisa irrealizável. || Quimera, fantasia.

Por vezes, ao procurar uma palavra no dicionário, deixo os meus dedos e olhos perderem-se noutras que não eram para ali chamadas. O pior é quando encontro algumas que me fazem seguir outros rumos e desviam da pesquisa inicial.
Utopia foi uma dessas palavras. Já não importa o que buscava, ao deparar com esta parei e perdi-me. É bonita, soa bem. É intrinsecamente humana. Assenta-me como uma luva.
Desde que eu me lembro de pensar que encontro todas as características que fazem de mim um utópico.
Queria ser vagabundo, obrigaram-me a ir estudar. Fugi de casa para ir à descoberta do mundo, deu-me a fome regressei a horas do jantar. Ninguém deu por nada. Nas brincadeiras queria ser bandido, obrigavam-me a fazer de polícia porque me apanhavam logo. Acreditei em todos os revolucionários da década de sessenta. Desapareceram. Excepto o Guevara que os USA aproveitaram para venderem a imagem em todas as inutilidades.
Fantasias e projectos irrealizáveis são uma constante na minha vida. Votei PS porque acreditei neles. O resultado está à vista! Tudo cada vez pior. Não há planos que resistam. Passam logo a utopias.
Mas uma utopia tornar-se realidade é uma impossibilidade, por definição. Imagina que eu considerava utópico um negro como presidente dos USA. Hoje tinha-se realizado essa fantasia; logo, não era uma utopia.
Portanto, perante a governação que temos, posso admitir que o meu sonho de ser vagabundo corre o risco de se tornar verdadeiro. Afinal não sou tão utópico como pensava.
Não posso é dispersar-me nas minhas consultas ao dicionário.

Bob, o construtor

O mundo de Bob, o incansável construtor, é a metáfora indelével da possibilidade, vagamente bíblica, da vivência harmoniosa homem/máquina obsoleta/natureza.
Um estágio de desenvolvimento civilizacional curioso, onde a simpática, prestável e ultrapassada retro escavadora comunga dos sofrimentos e alegrias do aprendiz de pedreiro, sorrisos e lágrimas estendidas a pele e chapa. Uma existência quimérica, ditada por um vazio crítico, embutido em valores de coerência (?) moral que sustentam o que, noutros tempos e quadrantes, se poderia etiquetar "paz pôdre". Épocas!!
O mundo de Bob é perfeito; a chuva é medida com o rigor que os rebentos demandam e o sol bronzeia Bob, mitigando os efeitos nocivos de uma excessiva radiação, e contribuindo para o crescimento sustentado da natureza.
Haverá, talvez, um titubeante paganismo de Bob. Deus, esse mesmo, não teria, em abono da verdade, patrocinado igual equilíbrio no jardim primeiro. O primeiro dos jardins, pois sim. Mas Bob nem fala em deus.
Bob é exacto, parcimonioso, prestável, elegante, sofista ao modo clássico. Bob sorri, acena e está certo; sejamos justos: Bob está sempre certo. Bob é impagável se retruca e sabe do que sabe e não.
E o assentimento das máquinas garridas enrobustece esse claro, tão claro, saber.
Bob vive num mundo fechado, pequenas miniaturas coloridas, onde as fronteiras não têm lugar - o preço do mundo do sonho que não tem limites e é tão pequeno ou tão grande...
Ainda bem. Bob não mereceria uma irritante crise externa nem orçamentos rectificativos.
Bob, é, afinal, um construtor.